Je suis Charlie

1789, ali mesmo. Cidade luz. A luz da Democracia. Bradava-se a trilogia que mudaria todo o rumo da história. Que nos humanizaria. Um grito de impugnação à tirania, à autocracia, à opressão. Um sopro de revolta ciclónico e sublevado à chama da Inquisição, da censura, que consumia a cultura, o pensamento, as vozes dissonantes. Propalava-se os ideais da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade. Volvidos dois séculos, ali mesmo, na cidade da luz, é assassinado o direito inalienável da Liberdade de expressão. Por Deus, dizem eles. Gritos de um extremismo que mutila a nossa humanidade. Um grito sujo de sangue que enjoa ouvir. Guerras ditas santas, travadas aparentemente em nome de Deus, pelas quais se justificam massacres, actos bárbaros, terrorismo – desrespeito absoluto pelo valor mais alto, o da vida. Eram e são jornalistas, estes heróis que se sacrificaram. Morreram em prol da liberdade de expressão, de pé, pelo ideal, tal como deve ser. Um ataque de fúria à força indomável do lápis que lavra o papel. Lápis que faz pulsar o sangue nas veias da democracia, única arma do jornalismo. Uma luta desigual perante a frigidez de uma arma automática. A desumanização. Mas a demanda pela Liberdade não finda aqui. Não nos damos por vencidos. Os lápis multiplicar-se-ão, mais afiados ainda. É urgente que emerja humanidade nos humanos. "Eu sou Charlie": um brado à Liberdade de expressão, que não podemos deixar morrer. Não foi em vão. No fundo, como reiterara Voltaire: “Posso não concordar com o que dizes mas bater-me-ei até à morte para que o possas dizer.”